Imagem de uma mãe com seu bebê no colo. Ela está de costas e o bebê está apoiado em um dos seus ombros. Ela olha sorridente para o pequeno.

Como a gravidez muda o cérebro da mãe?

A gravidez é um momento de transformações profundas, e não apenas no corpo. Além das intensas mudanças hormonais, o cérebro passa por uma “reprogramação” para acolher a chegada do bebê. 

Essas adaptações cerebrais fazem parte do processo natural e fascinante que prepara a mãe para cuidar do seu pequeno com amor, presença e atenção, aumentando a sensibilidade às necessidades da criança e fortalecendo o vínculo materno.

Continue a leitura e entenda as alterações no cérebro feminino durante a gravidez e no pós-parto e como vivenciá-las com mais leveza e bem-estar.

Quais mudanças ocorrem no cérebro da mulher durante a gestação e no pós-parto?

Muitas pessoas dizem que as mulheres ficam “sem memória” na gravidez, e isso até pode ser uma verdade, mas as mudanças que ocorrem no cérebro das gestantes são mais profundas do que esquecer compromissos ou as palavras enquanto falam.

As alterações hormonais e cerebrais são as grandes responsáveis por essas mudanças. Acompanhe:

Alterações hormonais

Você sabia que hormônios como o estrogênio e a progesterona podem subir de cem a mil vezes as suas concentrações durante a gestação? Esse aumento significativo impacta diretamente o sistema nervoso central, reorganizando conexões neurais e estimulando o crescimento de novas células nervosas.

Pesquisas indicam que essa intensa “reprogramação” fortalece circuitos cerebrais ligados ao comportamento materno. Por isso, algumas áreas do cérebro se tornam mais sensíveis aos sinais do bebê, facilitando o reconhecimento das suas necessidades e aprimorando a resposta materna.

Ainda, esse processo de desenvolvimento cerebral, que elimina conexões neuronais pouco utilizadas e fortalece as mais importantes para aquele momento, é conhecido como poda neural. Isso se deve à redução no volume de uma região do cérebro envolvida em processos de recompensa, tomada de decisão e motivação, conforme mostrou uma pesquisa realizada com gestantes.

O curioso é que, mesmo diminuindo, essa área ficou mais ativa, o que sugere que o cérebro da mulher fica mais especializado e preparado para perceber e responder melhor aos sinais do bebê.

Redução da massa cinzenta

A massa cinzenta, responsável pelo processamento de informações, controle de emoções e raciocínio, sofre uma redução em algumas áreas do cérebro durante a gravidez e o pós-parto. Longe de ser prejudicial, essa alteração otimiza as conexões neurais e deixa essas regiões mais especializadas, tornando a mãe mais sensível aos sinais do bebê, mais atenta a interações sociais e preparada para protegê-lo.

 

Sequência de images mostrando o volume de massa cinzenta nas mesmas partes do cérebro durante e após a gravidez.

Nas sequências de imagens é possível observar as mesmas partes do cérebro durante e após a gravidez. Fonte: Nature Neuroscience, 2024.

Aumento da massa branca

Enquanto a massa cinzenta diminui, a massa branca, que facilita a comunicação entre diferentes regiões do cérebro, parece aumentar. Esse crescimento fortalece a regulação emocional, a empatia e a tomada de decisões, ajudando a mãe a responder de forma mais eficaz às demandas do bebê e a estreitar seu vínculo afetivo.

Mudanças no hipotálamo

O hipotálamo, estrutura essencial para a regulação emocional e a liberação de hormônios, passa por adaptações que favorecem o comportamento materno. Estudos de neuroimagem mostram uma redução de volume em algumas das suas regiões após a gravidez, o que está relacionado a mudanças hormonais e ao desenvolvimento de instintos como o apego fetal e o comportamento de ninho – ajustes essenciais para a maternidade.

O que as mudanças no cérebro da mãe podem representar?

A maternidade real é uma jornada repleta de desafios, descobertas e alegrias. As mudanças no cérebro feminino durante essa fase são naturais e contribuem para a sobrevivência do ser humano, pois fortalecem o vínculo entre a mãe e o pequeno, tornando cada gesto de cuidado ainda mais intuitivo e especial. 

Por isso, mães saudáveis podem perceber:

  • maior capacidade de atenção;
  • fortalecimento do vínculo com o bebê;
  • aumento da “intuição” materna, empatia e resiliência;
  • melhora da interpretação dos sinais do bebê;
  • maior percepção e antecipação de possíveis situações de risco físico ou emocional do bebê (como quedas, acidentes, doenças ou sinais de desconforto). 

Mommy brain

Por outro lado, essas mesmas mamães podem observar também alguns lapsos de memória, como trocar nomes, esquecer compromissos ou perder objetos que estavam nas próprias mãos.

Se isso já aconteceu com você ou alguém próximo, saiba que não é mera distração — as mudanças cognitivas profundas pelas quais o cérebro passa para se adaptar à maternidade podem causar esse tipo de comportamento.

Foi aí que surgiu o termo Mommy Brain (cérebro de mãe). Esse fenômeno pode incluir lapsos de memória, dificuldade de concentração e menor clareza mental, fazendo com que muitas mães se sintam mais distraídas ou esquecidas nesse período. 

Embora possa parecer um desafio, essas mudanças refletem a adaptação natural do cérebro à maternidade, que passa a priorizar os cuidados com o bebê.

Impactos na saúde mental

Ainda sobre as transformações cerebrais que ocorrem durante a gestação, a mesma plasticidade cerebral que facilita a adaptação entre mãe e filho também pode aumentar a vulnerabilidade a distúrbios emocionais no pós-parto e o puerpério, tornando a mulher mais sensível ao estresse, a condições como o baby blues e à depressão pós-parto.

Baby blues

O baby blues é uma condição temporária que muitas mães experimentam após o parto, causando oscilações de humor, irritabilidade, ansiedade, tristeza leve e pode estar ligado a mudanças no cérebro após o parto

Uma das principais alterações ocorre em uma área cerebral envolvida na regulação emocional, que pode ser influenciada pelo estresse da gravidez. Além disso, após o parto há um aumento no volume cerebral nessa mesma região, acompanhado por uma queda acentuada nos níveis de progesterona, hormônio ligado ao humor.

Essas mudanças cerebrais, combinadas com a flutuação hormonal, parecem contribuir para o surgimento dos sintomas do baby blues. Diferente da depressão pós-parto, essa condição costuma ser passageira e durar apenas alguns dias ou até duas semanas após o parto.

Depressão pós-parto

Já a depressão pós-parto é um tipo de depressão que pode acontecer depois que a mulher tem um bebê. Ela vai muito além do cansaço e das mudanças de humor comuns nessa fase. Trata-se de um problema de saúde que afeta as emoções, o comportamento e a forma como a mãe se sente em relação a si mesma e ao seu bebê.

A depressão pós-parto pode surgir logo nas primeiras semanas após o parto ou até meses depois e durar por mais de um ano. Os principais sintomas incluem:

  • tristeza profunda e persistente;
  • falta de energia e muito cansaço;
  • dificuldade para criar vínculo com o bebê;
  • ansiedade intensa ou crises de choro;
  • sentimento de culpa ou de não ser uma boa mãe;
  • alterações no sono e no apetite;
  • falta de interesse por coisas que antes davam prazer.

Em ambas as situações, baby blues e depressão pós-parto, um ambiente acolhedor, o apoio familiar e momentos de descanso são importantes para ajudar a mãe a passar por essa fase com mais leveza. Porém, caso os sintomas persistam é importante compartilhar esses sentimentos e buscar ajuda profissional para avaliação.

Essas mudanças são temporárias ou permanentes?

As mudanças no cérebro da mãe após a gravidez são, em grande parte, temporárias, mas algumas podem durar por muito tempo. Isso acontece porque o cérebro feminino tem uma grande capacidade de adaptação, chamada plasticidade, o que permite que ele se recupere ao longo do tempo.

Enquanto alguns estudos mostram que, mesmo 12 semanas após o parto, algumas áreas do cérebro ainda não voltaram ao tamanho que tinham antes da gestação, outros trazem que essas mudanças continuam por pelo menos 2 ou até 6 anos após o nascimento do bebê. 

Isso significa que a maternidade pode deixar marcas duradouras no cérebro, e não somente durante a gestação e o puerpério. 

Pais também podem ter mudanças no cérebro?

Nos últimos anos, os homens têm se envolvido cada vez mais na criação dos filhos. Embora ainda não se tenha muitos estudos sobre como o cérebro do pai responde a essa experiência e como isso se compara ao cérebro da mãe, algumas evidências sugerem que os pais que atuam como principais cuidadores dos filhos ativam tanto a área emocional do cérebro quanto a do planejamento.

Isso significa que ao assumir um papel mais ativo na criação dos filhos, o cérebro do homem se adapta de forma semelhante ao da mulher, ainda que em menor intensidade. Além disso, quanto mais tempo os pais passam cuidando diretamente do bebê, mais forte é a conexão entre essas duas regiões (emocional e planejamento).

Esses achados mostram que o cérebro humano é altamente adaptável à experiência da maternidade e da paternidade ativa, reforçando que tanto mães quanto pais podem desenvolver conexões profundas com seus filhos por meio do cuidado diário. 

Como lidar melhor com as alterações no cérebro materno?

As transformações no cérebro materno são uma parte natural da maternidade. Embora possam parecer desafiadoras em alguns momentos, essas mudanças fazem parte do caminho de adaptação e conexão com o bebê. 

A seguir, confira algumas dicas que podem ajudar você a viver esse período de forma ainda mais leve e harmoniosa.

Entenda as mudanças

Entender as transformações que ocorrem no cérebro materno ajuda a reduzir expectativas irreais e aliviar a ansiedade. Além disso, essa compreensão facilita o apoio das pessoas ao redor, tornando o período mais acolhedor.

Respeite seu ritmo

Oscilações na memória e atenção são naturais nesse período e compreender isso ajuda a encarar os desafios diários com mais leveza. É normal que a prioridade seja o bebê e que outras demandas fiquem em segundo plano, e tudo bem! Evite cobranças excessivas, pratique a autocompaixão e siga no seu próprio ritmo, permitindo-se viver essa fase com mais tranquilidade.

Faça anotações

Com tantas novas responsabilidades, a mente da mãe pode ficar sobrecarregada. Entre mamadas, trocas de fraldas e poucas horas de sono, é comum esquecer compromissos, recados ou até onde deixou algum item. 

Ter um bloco de notas ou um aplicativo de organização à mão ajuda a registrar tarefas, horários de consultas e até ideias importantes, liberando espaço mental para o que realmente importa: cuidar do bebê e de si mesma com mais tranquilidade.

Durma sempre que possível

O sono tem um papel fundamental na recuperação física e mental, ajudando na regulação emocional e na memória. Embora dormir bem com um bebê pequeno seja um desafio, cochilos ao longo do dia podem compensar parte da privação de sono e melhorar a disposição.

Peça e aceite ajuda

A maternidade não precisa ser solitária. Contar com uma rede de apoio, seja do parceiro, da família ou de amigos, ajuda a reduzir o estresse e proporciona momentos de descanso. Aceitar ajuda não é sinal de fraqueza, mas sim de autocuidado e inteligência emocional.

Exercite a mente e o corpo

Atividades como leitura, quebra-cabeças e aprendizado de novas habilidades mantêm o cérebro ativo e saudável. O exercício físico também é essencial, pois libera endorfinas, melhora o humor e reduz o estresse, contribuindo para o equilíbrio mental e emocional.

Busque suporte profissional, se necessário

Alterações no humor e na cognição são comuns, mas se estiverem prejudicando sua qualidade de vida, procure ajuda. Psicoterapia, acompanhamento médico e grupos de apoio podem oferecer estratégias para enfrentar os desafios da maternidade.

Priorize o autocuidado

No meio da rotina, pequenos momentos para si fazem toda a diferença no bem-estar. Aproveite uns minutinhos para fazer um skincare com atenção, hidratar a pele, respirar fundo e se reconectar.

Enquanto o bebê toma sol, feche os olhos e exercite pensamentos positivos. Quando ele dormir, faça um chá e ouça uma música. Um café com as amigas ou um banho um pouquinho mais demorado também ajuda a aliviar o cansaço e renovar as energias. 

Claro que isso nem sempre é possível, mas saiba que o autocuidado não precisa ser complicado – busque encaixar pequenas pausas no dia a dia para cuidar de você com carinho. 

Dê preferência a uma alimentação equilibrada

Uma alimentação equilibrada faz toda a diferença para garantir a ingestão adequada de nutrientes e dar mais energia e bem-estar à mãe. Sempre que possível, priorize refeições nutritivas e ricas em vitaminas  e minerais essenciais. 

Ainda, os suplementos para gestantes podem ser grandes aliados, ajudando na saúde física e mental durante a gravidez e o pós-parto. Conheça as principais vitaminas para gestantes que podem ajudar a enfrentar os desafios dessa fase com mais disposição e leveza! 

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