Imagem de um bebê recém-nascido na golden hour. Ele está sobre o peito da mãe, em contato pele a pele. Ambos estão se olhando. O bebê tem a pele clara e o cabelo escuro.

Golden hour: a magia da primeira hora de vida do bebê

Toda mãe sonha com o momento em que terá o filho nos braços, poderá ver o seu rostinho, sentir o seu cheirinho e começar a viver essa nova experiência. Você sabia que esse momento tão aguardado também é um dos mais importantes da vida do seu filho?

A forma como é conduzida a primeira hora de nascimento, conhecida como golden hour, pode trazer muitos benefícios à saúde da mãe e do bebê. 

Descubra neste texto o que é golden hour, como garantir que ela aconteça e de que forma ela pode impactar nos próximos anos de vida.

O que é a golden hour no parto?

Os primeiros 60 minutos fora do útero são bem importantes para o bebê e podem refletir de forma positiva na vida do pequeno. Chamada de golden hour, ou hora dourada em português, essa primeira hora contribui com muitos benefícios a curto e longo prazo.

A golden hour em recém-nascidos a termo (entre 37 e 42 semanas) é muito especial para a conexão entre mãe e filho. Hoje, já se sabe que os procedimentos que não são urgentes podem esperar para dar lugar a atitudes simples que fortalecem o vínculo que se inicia:

  • Contato pele a pele;
  • Início da amamentação;
  • Término da pulsação do cordão umbilical;
  • Regulação da temperatura corporal do bebê no corpo da mãe;

Como o nascimento é uma experiência bem marcante na nossa vida (embora não possamos nos lembrar), o que acontece na sequência à primeira respiração fora do útero pode determinar muitas questões importantes. Por isso, ao se preparar para o parto, você pode incluir nas informações o desejo de realizar a golden hour com o seu bebê e obter todos os benefícios desse momento.

Como é feita a golden hour?

O principal elemento para a golden hour acontecer é o contato pele a pele entre o bebê e a mãe – ou do seu acompanhante, caso ela não possa. É a partir daí que outros procedimentos poderão ser realizados para que esse momento seja humanizado para a família, como estimular a amamentação e permitir que haja um atraso no clampeamento do cordão umbilical. Confira como são feitos esses procedimentos:

Contato pele a pele

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), no guia “Dez Passos para o Sucesso da Amamentação”, sugerem que o contato pele a pele entre mãe e bebê deve ser imediato e sem separação, a menos que existam razões clinicamente justificáveis ​​documentadas para atraso no contato ou interrupção. Esse contato deve ser feito da seguinte forma logo após o bebê nascer:

  • O bebê deve ser colocado junto ao abdômen ou peito da mãe – tanto em partos normais quanto em cesáreas;
  • Os dois devem estar com o corpo nu;
  • A cabeça do bebê deve ser coberta com uma touca seca;
  • Nas costas do bebê deve ser colocado um cobertor. 

Estímulo à amamentação

O ideal é que os recém-nascidos que nascem bem comecem a mamar o mais cedo possível. A Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC) recomenda que eles sejam mantidos em contato pele a pele com suas mães imediatamente após o nascimento e que a amamentação seja iniciada na primeira meia hora de vida, quando possível.

Atraso no clampeamento do cordão

Ao proporcionar a golden hour para a mãe e o bebê, é possível que o clampeamento
do cordão umbilical sofra um “atraso”. Isso pode trazer benefícios à saúde do pequeno, especialmente na prevenção de doenças, devido à transfusão placentária (sangue que passa pela placenta para o bebê).

Qual a importância do primeiro contato do recém-nascido com a mãe?

Há inúmeras vantagens da golden hour para mãe e bebê. Segundo artigo publicado no Journal of Maternal-Fetal & Neonatal Medicine, estabelecer e prorrogar a amamentação, atrasar o clampeamento do cordão umbilical, regular a temperatura corporal e diminuir os riscos de mortalidade infantil são os principais deles.

Pele a pele: vínculo entre mãe e bebê

Para a Sociedade Brasileira de Pediatria, o contato pele a pele logo após o parto faz o recém-nascido se adaptar mais rapidamente à vida fora do útero, promovendo o vínculo mãe-bebê, e permite que a mãe passe para o pequeno os microrganismos que compõem a microbiota da sua pele, que vão protegê-lo contra infecções. 

Segundo estudos de neurociência dos mamíferos, esse contato garante a satisfação das necessidades biológicas básicas e esse tempo pode ser essencial para programar o funcionamento do organismo e até comportamentos futuros.

Amamentação: menos dificuldades e por mais tempo

Muitas mães sentem dificuldades na amamentação, principalmente no início. A golden hour pode minimizar os desafios desse momento, além de ser essencial para o estabelecimento do aleitamento e para prolongá-lo por mais tempo.

Um artigo de revisão pontuou que o contato pele a pele precoce leva a um aumento nas taxas de amamentação de um a quatro meses após o nascimento, além de mais tempo de duração. 

Foi demonstrado que deixar o bebê juntinho da mãe aumenta ainda o tempo de amamentação exclusiva, ao mesmo tempo que reduz a suplementação com fórmula no hospital, levando a uma amamentação mais precoce e bem-sucedida.

Clampeamento do cordão: melhores taxas sanguíneas

As Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal, do Ministério da Saúde, sugerem  realizar o clampeamento do cordão umbilical entre um a cinco minutos ou quando parar de pulsar, exceto se houver alguma necessidade ou condição adversa.

Ter esse tempinho entre o nascimento e o clampeamento do cordão pode melhorar as taxas sanguíneas dos recém-nascidos a termo, aumentando a transferência de sangue que passa da placenta para o bebê.

Segundo a literatura científica, esse processo ajuda:

  • no aumento de peso do bebê;
  • na diminuição do riscos de anemia, ao elevar a hemoglobina diante do aumento na ferritina sérica e no ferro corporal total durante o primeiro ano; 
  • em ter menores riscos de precisar de fototerapia para tratar a icterícia, muito comum em recém-nascidos.

Temperatura corporal e menos riscos de mortalidade infantil

O contato pele a pele da golden hour permite a regulação corporal do bebê devido à grande diferença nas condições de temperatura dentro e fora do útero. São nos primeiros minutos e horas após o nascimento que ocorre o maior risco de hipotermia neonatal.

Esse benefício também é visto inclusive em prematuros. Em uma pesquisa realizada com bebês nascidos com menos de 27 semanas em UTI neonatal, conclui-se que a implementação de um protocolo golden hour é eficaz para reduzir a hipotermia e a hipoglicemia em bebês extremamente prematuros. 

Além dos benefícios citados acima, as evidências que apoiam o contato pele a pele logo após o nascimento apontam para muitos outros benefícios fisiológicos, sociais e psicológicos para a mãe e para o bebê. 

Outros benefícios para o bebê

Segundo estudos, os benefícios para mães e bebês são:

  • Regulação da frequência cardíaca;
  • Regulação da glicemia;
  • Diminuição do estresse do bebê ao nascer;
  • Melhora da dinâmica cardiopulmonar;
  • Aumento da ocitocina – promove bem-estar, conforto e apego ao bebê.

Outros benefícios para a mãe

  • Expulsão precoce da placenta;
  • Redução do sangramento e hemorragias;
  • Redução dos níveis de estresse materno;
  • Menos dificuldade na amamentação;
  • Aumento da ocitocina – está relacionado com o estabelecimento do vínculo mãe-bebê, redução da ansiedade materna, além de ter papel importante nas contrações uterinas e na ejeção do leite.

A gestante pode solicitar a golden hour?

A melhor forma de fazer a golden hour é incluindo a sua solicitação no seu plano de parto. É nesse documento que ficam registrados todos os desejos da futura mãe quanto ao parto e ao pós-parto. 

Outra forma de garantir o seu direito é informando ao seu acompanhante e à sua equipe médica, caso você seja acompanhada por uma, para que eles ajudem a garantir que o seu bebê fique coladinho com você na primeira hora de vida.

O que acontece se não houver a golden hour?

A golden hour traz muitos benefícios, mas a ausência dela não significa prejuízos ao bebê ou à mãe. O desenvolvimento do seu filho ocorrerá naturalmente e não há evidências concretas de que não ter experimentado a hora dourada possa afetar a saúde de alguma forma. Então, se você não puder ou não teve esse momento, não se preocupe. 

O importante é seguir o pré-natal conforme a orientação do seu médico e manter-se o mais saudável possível na gestação e no pós-parto, priorizando atitudes que fortaleçam o vínculo com o seu bebê como muito colo, carinho e atenção nesse início de vida.

É possível adaptar a golden hour?

Em algumas ocasiões, o bebê pode precisar de cuidados médicos logo após o nascimento, fazendo com que o momento pele a pele logo após o parto não seja possível. Vale ressaltar que, nesses casos, os benefícios da golden hour não podem superar a urgência médica. 

Diante de situações como essas, a dica é colocar a mãe e o bebê em contato assim que possível, quando o bebê já estiver recuperado. Você também pode preparar o seu acompanhante para realizar a golden hour caso você não esteja disponível ou se preferirem dividir essa tarefa.

Outra dica é se informar se a maternidade onde o seu bebê vai nascer possui protocolo de golden hour para bebês prematuros, como funciona e em que casos é permitido.

E se eu não conseguir amamentar?

Há bebês que não aceitam mamar nas primeiras horas ou que estão com dificuldades – e está tudo bem!

A amamentação e o vínculo entre mãe e bebê começa no nascimento e é beneficiado pela golden hour, mas esse processo continua se fortalecendo nos meses seguintes. Essa conexão é construída no dia a dia, no cuidado, no carinho e em todos os momentos que vocês terão juntos. 

Lembre-se sempre que com a chegada do bebê, chegam novidades, mudanças e novos sentimentos. A mãe entra em uma nova jornada, cheia de desafios e muito amor.

Depois do parto, um momento muito especial e delicado para mãe e bebê se apresenta. Confira o nosso conteúdo sobre o puerpério para saber como vivenciar essa fase com leveza e memórias positivas dos primeiros dias de vida do seu bebê.