A imagem traz a uma mãe com seu bebê colado ao peito, dentro de um sling em tecido com listras largas nas cores azul e branco. Mãe e bebê tem pele clara e cabelos castanhos claro. O bebê está dormindo e a mãe olhando para ele e sorrindo levemente. O uso do sling é uma prática recomendada na exterogestação.

Exterogestação: o início da vida fora do útero

O momento em que um bebê nasce é algo mágico e transformador tanto para os pais quanto para o pequeno. Afinal, é quando o recém-nascido inicia a sua jornada fora do útero e passa a explorar tudo o que o mundo oferece.

E é justamente sobre esse início que se trata a exterogestação. Continue com a gente e entenda o que é essa teoria, quanto tempo dura e o que fazer para ajudar o seu bebê a lidar melhor com esse novo mundo que o espera.

Exterogestação: o que é?

A teoria da exterogestação foi criada pelo antropólogo Ashley Montagu, na década de 80, e popularizada pelo pediatra norte-americano Harvey Karp para explicar o desenvolvimento humano como um processo contínuo que se inicia no útero e se estende pelos primeiros meses de vida do bebê fora dele. 

Nesse sentido, vale esclarecer que a exterogestação não é uma condição médica ou um conjunto de sintomas que o bebê apresenta. Mas sim, uma teoria que destaca a importância dos primeiros meses de vida fora do útero para o desenvolvimento completo da criança.

Logo, todos os bebês passam pela exterogestação, independente de chorar muito ou não, de dormir a noite toda ou não. O que muda é a forma como os pais e cuidadores desempenham seus papéis no cuidado com esse pequeno ser que acabou de chegar.

Entendendo melhor o conceito

Após comparar a gestação e o desenvolvimento dos bebês de diversas espécies animais, Montagu observou que os bebês humanos nascem muito imaturos e são completamente dependentes de um cuidador para crescer e se desenvolver. 

Isso acontece porque seriam necessárias mais algumas semanas dentro da barriga da mãe para o completo desenvolvimento do cérebro dos pequenos. No entanto, o crescimento e o ganho de peso nessa fase impossibilitariam a passagem pelo canal vaginal no momento do parto. Assim, de modo geral, os bebês nascem no 3º trimestre de gestação, entre 37 e 42 semanas, mesmo extremamente dependentes de cuidados.   

O útero como primeiro lar

Durante esses três trimestres, o útero da mãe é um refúgio acolhedor, onde o bebê encontra tudo o que precisa para se desenvolver: temperatura ideal, nutrição, oxigênio e proteção contra agentes externos. É nesse ambiente seguro que o bebê inicia sua jornada de vida, construindo as bases para o seu desenvolvimento físico e emocional.

O mundo como segundo lar

Ao nascer, o bebê se depara com um mundo novo e cheio de estímulos, que será o seu segundo lar. Nele, o pequeno precisa aprender tudo, começando por respirar e se alimentar. Ele também não sabe como manter a sua temperatura ou se proteger. 

Por isso, precisa ser recebido com um ambiente acolhedor e de muito afeto, que ofereça a ele a oportunidade de explorar, aprender e se relacionar com o mundo ao seu redor. Esse ambiente é considerado por Montagu como o “segundo útero”, em que o bebê continua a ser gestado até se desenvolver e adquirir suas primeiras habilidades. 

Quanto tempo dura a exterogestação?

De acordo com a teoria de Montagu, a exterogestação corresponde aos três primeiros meses de vida do bebê. É como se fosse o quarto trimestre da gestação, mas fora do útero. Nessa fase, é comum que os pequenos sintam medo e insegurança em relação ao mundo. É difícil saber, mas talvez eles até desejem retornar ao útero, onde estavam aconchegados, na temperatura ideal e recebendo tudo pronto.

Por volta dos 100 dias, o bebê já começa a expressar suas próprias vontades, interagir mais com os pais e cuidadores e até a demonstrar curiosidade em pegar os objetos. Isso significa que ele está progredindo e vai passar para outra fase, o que representa o fim da exterogestação.

Como ajudar o bebê a passar pela exterogestação?

Algumas dicas simples podem ajudar o seu bebê a se sentir mais seguro e confiante em relação ao mundo aqui fora. Confira as principais!

1. Crie um ambiente acolhedor

Lembre sempre do ambiente do útero e tente recriar esse aconchego em casa. Você pode embrulhar o seu bebê, fazendo uma espécie de “pacotinho” com uma mantinha ou colocá-lo no sling, colado ao corpo, para que se sinta bem apertadinho e protegido como era dentro da barriga da mãe.

Outra dica é segurar o pequeno de lado, com a cabeça em uma das mãos e o corpo apoiado no braço, simulando a posição fetal. Ao colocar no berço ou no carrinho, tente usar os chamados “ninhos”, que criam uma sensação de aconchego e não permitem que o bebê se sinta solto.

2. Identifique o que acalma o bebê

Um ambiente com temperatura agradável e iluminação suave pode trazer paz ao bebê, assim como o uso de sons que imitem o que ele ouvia quando estava no ventre materno. O som mais comum é o famoso “shhhh” que você já deve ter ouvido alguma mãe ou pai fazer.

Além de ser feito com a boca, esse som também pode vir de aplicativos (geralmente o som aparece com o nome ruído branco), aspirador de pó (desde que baixo) e secador de cabelo (desde que baixo e posicionado a uma distância segura).

Outras formas de acalmar o bebê são balançar, afinal ele já estava acostumado com o andar da mãe antes de nascer, e amamentar. A maioria acalma no peito materno, pois eles costumam chupar os dedinhos no útero.

3. Construa vínculos fortes

Procure passar um tempo de qualidade com o seu bebê. Converse com ele, cante, brinque, abrace, faça carinho e massagens. É importante ouvir o som da voz da mãe, do pai e das pessoas que estiveram com ele durante a gestação, assim como manter a presença e o contato físico com o pequeno para que ele se mantenha mais calmo e se sinta mais seguro.

Os bebês não ficam mais mimados quando os pais respondem ao seu choro e nem ficam “mal acostumados”quando permanecem por mais tempo no colo. Carinho e afeto nunca são demais! 

4. Lide com os desafios

Um recém-nascido demanda muitos cuidados e esses cuidados demandam tempo, paciência e muito amor. É comum que os primeiros meses sejam os mais desafiadores, pois, além das mudanças na rotina da família, os pais precisam lidar com as noites mal dormidas, os chorinhos frequentes, a amamentação (que nem sempre é fácil), entre outras coisas.

Nem sempre os pais estão preparados para tudo isso, mas vale reconhecer que esses desafios existem e são comuns até que se consiga estabelecer uma rotina. Aproveite para contar com a sua rede de apoio (caso você tenha) e procure aproveitar ao máximo o seu tempo com o pequeno.

5. Celebre as conquistas

A cada dia que passa, você vai observar o quanto o seu bebê está se desenvolvendo. Ele vai passar mais tempo acordado, olhar para todos os lados e fixar os olhos em você, acariciar o seu peito enquanto mama ou tentar pegar algo que está ao seu alcance.

Sempre que perceber uma nova conquista, comemore com ele. Reconheça e valide seus progressos. Ele pode estar passando por um salto de desenvolvimento importante que o faz ter novas habilidades. 

Quer saber mais sobre esse conceito tão falado pelos pediatras? Confira o artigo que preparamos para você.

SILVA CO, et al. A adaptação do bebê à vida extra-uterina e à sua família: o papel da enfermagem. Revista Científica Interdisciplinar do Centro Universitário Campo Real, 2023. Disponível em: <https://guarapuava.camporeal.edu.br/content/uploads/2023/09/REVISTA-PROPAGARE-VOLUME-13-No-02-JULHO-DE-2023.pdf#page=6>. Acesso em: 04 de junho de 2024. 

SCHÖN RA, et al. Natural parenting — back to basics in infant care. Evolutionary Psychology, 2007. Disponível em: <https://doi.org/10.1177/147470490700500110>. Acesso em: 04 de junho de 2024. 

MONTAGU A. Tocar: o significado humano da pele. São Paulo: Summus, 1988. 

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