Com todas as suas descobertas e desafios, o puerpério pode ser um dos momentos mais lindos e também mais complexos na vida de uma mãe. Receber seu bebê em casa é, sem dúvida, uma fonte inesgotável de amor, mas que também exige bastante. Afinal, esse novo ser é totalmente dependente de você e vai mudar completamente a sua rotina.
Logo, lidar com as transformações físicas e emocionais do seu corpo no pós-parto e equilibrar as demandas dos primeiros dias com o bebê pode não ser algo fácil, mas é possível com uma boa preparação ainda durante a gestação.
Fique com a gente e entenda o que é o puerpério, quanto tempo dura, quais são as mudanças físicas e emocionais que acontecem com a mãe, quais cuidados são indispensáveis e o papel da família e das pessoas que fazem parte da rede de apoio durante essa fase.
Afinal, o que é puerpério?
O puerpério inicia logo após o parto e é popularmente conhecido como quarentena ou resguardo. Ele dura em média 45 dias, e corresponde a um período de adaptação do corpo da mãe após o nascimento do bebê. Por ser um momento de adaptações e mudanças, esse período pode ser maior ou menor, dependendo das condições específicas de cada mulher.
É durante essa fase que os órgãos começam a voltar ao que eram antes da gestação, que o corpo adquire a forma do seu “novo normal” e a mulher passa a se ajustar à maternidade.
Fases do puerpério
Independente do tipo de parto (vaginal ou cesárea), a mulher passa por 3 fases distintas durante o puerpério. São elas:
- Puerpério imediato: do 1º ao 10º dia após o nascimento do bebê. Esse período é caracterizado por um sangramento vaginal semelhante à menstruação, denominado lóquio, e com uma intensidade considerável.
- Puerpério tardio: entre o 11º ao 45º dia. Apresenta um fluxo bem menor de sangue, que pode cessar completamente ao final desse período.
- Puerpério remoto: inicia após o 45º e pode durar até o 6º mês do bebê, dependendo da mulher. O que indica o seu término é a regulação do ciclo menstrual, que varia muito de uma mãe para a outra e também está relacionada à amamentação. Mulheres que amamentam podem demorar mais para ter seu ciclo menstrual restabelecido.
O que muda no corpo da mulher durante esse período?
Bem, durante a gestação são em média 40 semanas de transformações intensas até o bebê nascer. Por isso, logo após o nascimento é normal que outras tantas mudanças ocorram no corpo da mãe. Entre elas estão:
- O formato: o organismo da mulher acabou de gerar uma nova vida. Foram tantas mudanças que talvez ele não retorne a ser exatamente como era antes. E não se trata apenas de um número na balança, mas de outras características como estrias, flacidez, entre outras. Nesse sentido, vale ressaltar que cada mulher é única e precisa do seu próprio tempo para se adaptar a esse novo formato. Isso não acontece do dia para a noite e é preciso respeitar algumas limitações, como liberação médica para o retorno às atividades físicas, falta de tempo, privação de sono e outros fatores. Ainda assim, vale buscar orientação profissional, pois muito além de uma questão estética, alguns assuntos, como o peso, estão relacionados à saúde.
- Inchaço abdominal: seu útero ganhou peso e aumentou muito de tamanho durante a gravidez. É natural que ele precise de um tempo para retornar ao seu aspecto normal. Por isso, sua barriga ainda ficará inchada por algum tempo e você também pode sentir cólicas durante o período em que ele está encolhendo.
- Mamas doloridas: além da produção de leite, que pode deixar os seios enrijecidos ou inchados, a sucção do bebê também pode causar machucados, causando dor.
- Desconforto na região íntima: acontece principalmente com quem passou pelo parto vaginal, no qual podem ocorrer lacerações na região do períneo, o que pode causar dor e desconforto durante a recuperação. Ainda, algumas mulheres apresentam incontinência urinária e/ou fecal nos primeiros dias após o parto, que podem ser prevenidas por meio de exercícios de fortalecimento do assoalho pélvico durante a gestação.
- Alterações hormonais e emocionais: sim, elas continuam durante o puerpério e podem ser ainda mais intensas em alguns casos, causando calor excessivo, mudanças de humor, depressão pós-parto e também uma condição chamada baby blues.
Diferença entre depressão pós-parto e baby blues
Embora ambos os quadros estejam relacionados a alterações hormonais e emocionais, existem algumas diferenças entre eles:
- Depressão pós-parto: menos frequente, essa condição atinge de 10% a 15% das puérperas, pode surgir até 4 semanas após o nascimento do bebê e inclui sintomas como:
- irritabilidade;
- insônia;
- falta de motivação;
- choro e tristeza profundos;
- sensação de incapacidade;
- rejeição ao bebê;
- culpa excessiva, entre outros.
- Baby blues: considerado um fenômeno fisiológico, é uma situação mais frequente (acomete entre 50% e 70% das puérperas) e pode ser definido como uma condição depressiva transitória, com sintomas mais brandos. Pode iniciar logo após o parto e durar até duas semanas. Também, pode ser um fator desencadeante da depressão pós-parto. Seus principais sintomas são:
- fragilidade;
- alterações de humor;
- crises de choro e ansiedade;
- sentimento de incapacidade e falta de confiança em si mesma.
Caso apresente algum desses sintomas ou sentimentos, converse com o seu médico e também peça ajuda para sua rede de apoio ou para a pessoa que está ao seu lado durante os primeiros cuidados com o bebê. A depressão é uma doença e precisa de diagnóstico e tratamento adequados, assim como qualquer outra.
Quais devem ser os principais cuidados durante o puerpério?
O tão esperado nascimento do bebê traz com ele uma nova rotina. Os primeiros dias podem ser bastante desafiadores, mas tudo será mais fácil se você se organizar e já tiver isso em mente antes da chegada do seu pequeno.
Alguns cuidados que podem te ajudar a passar por essa fase de forma mais confiante e segura, são:
1. Alimentação equilibrada
Assim como durante a gravidez, a necessidade de vários nutrientes no puerpério é maior do que em outras fases da vida da mulher. Desse modo, é necessário um cuidado especial com a ingestão adequada de vitaminas, fibras e minerais durante essa etapa.
Para isso, aposte em uma boa dieta pós-parto, com uma alimentação equilibrada e rica em proteínas, frutas, legumes, verduras, grãos integrais e gorduras saudáveis.
Uma boa dica é preparar algumas refeições com antecedência e congelar ou comprar marmitas prontas congeladas em maior quantidade. Além de facilitar a sua rotina, essa prática pode contribuir para uma alimentação mais saudável. Ainda, não esqueça de aumentar a ingestão de líquidos, especialmente se estiver amamentando.
Esses cuidados irão garantir o aporte de nutrientes necessários para que você tenha uma boa cicatrização e se recupere mais rapidamente, assim como obtenha mais energia para as atividades diárias, melhore a amamentação, gerencie seu peso e mantenha a saúde mental em dia.
2. Prática de atividade física
A prática de atividades físicas durante o puerpério é comprovadamente benéfica para a saúde física e mental, tanto da mãe quanto do bebê. Para isso, o seu médico irá orientar o melhor momento para retomar as atividades físicas. Logo, é importante que você se prepare e destine um momento do seu dia para a prática de exercícios.
Não precisa ser algo cansativo e demorado. Experimente começar com movimentos que podem ser realizados no conforto da sua casa, como alongamentos ou yoga, por exemplo.
Se for viável para você, faça caminhadas ou passeios ao ar livre próximos à sua casa. Aproveite esse momento, também, para ouvir uma música, tomar um sol e ver outras pessoas. Essa mudança de cenário pode ser mais revigorante do que você imagina.
3. Amamentação
Ao mesmo tempo em que pode ser maravilhoso, amamentar também pode ser desafiador. Nos primeiros dias, os seios podem ficar bastante inchados e doloridos, o bebê pode ter dificuldades na pega e as aréolas podem ficar machucadas.
Portanto, mantenha a calma. Tenha paciência para aprender com o seu corpo e também com o seu bebê, e não esqueça de pedir ajuda sempre que sentir necessidade. Converse com seu médico, obstetra ou pediatra, e procure uma consultora de amamentação, caso seja possível.
Nesse momento, é importante lembrar que a amamentação é o maior estímulo para a produção de leite e, também, é comprovadamente o melhor alimento para o seu bebê, sendo capaz de fornecer os nutrientes que ele precisa para se desenvolver forte e saudável.
Além disso, esse é um dos momentos de conexão mais marcantes entre você e o seu pequeno. Por isso, vale a pena fazer um esforço e aproveitar ao máximo os benefícios da amamentação.
4. Retorno à vida sexual
Vale conversar com seu médico e com o seu parceiro ou parceira sobre o retorno à vida sexual, pois ela será interrompida por um período após o parto. Esse tempo dura em média 40 dias, mas tudo depende de como será a recuperação da mulher.
Vale destacar que trata-se de um resguardo importante, pois é o tempo necessário para uma boa cicatrização dos tecidos, seja da incisão da cesárea ou de possíveis lacerações causadas pelo parto vaginal.
E apesar de normalmente já estar liberado o retorno à vida sexual após os 40 dias, muitos fatores podem influenciar nesse momento. A nova rotina com o bebê, a saúde física e mental da mulher, a autoestima após a gravidez, entre outros aspectos variáveis de cada situação individual podem acabar adiando esse retorno.
Por isso, esse é um assunto que deve ser conversado entre o casal até mesmo antes e durante a gravidez, para que consigam alinhar as expectativas e curtir o momento com bastante cuidado e carinho, respeitando o tempo necessário.
Ao retornar, alguns pontos importantes devem ser observados, como o conforto da mulher durante a relação, a ausência de dor e também a melhor forma de prevenir uma nova gestação. Afinal, algumas mulheres podem ter seu ciclo menstrual retomado logo após o nascimento do bebê, podendo engravidar novamente a qualquer momento, enquanto outras demoram até 6 meses ou mais.
Contracepção após o parto
É fundamental buscar a orientação do seu médico ou de um profissional de saúde quanto ao método contraceptivo que mais se adapta às suas necessidades. Isso, porque você pode optar por métodos de barreira (como o uso de preservativos, que também protegem contra infecções sexualmente transmissíveis) ou hormonais (como pílula, DIU, anel vaginal, entre outros).
Ainda, alguns contraceptivos hormonais à base de estrogênio devem ser evitados, pois a substância pode afetar a produção do leite materno, além de ser repassada ao bebê, que não deve ser exposto à ação estrogênica. Por isso, os mais indicados são os contraceptivos hormonais somente à base de progestina.
5. Atenção à saúde emocional
Como citamos anteriormente, as mudanças hormonais do puerpério podem desencadear alterações emocionais intensas. Quando você tem conhecimento e se prepara para o que está por vir, fica mais consciente para encarar os desafios e solicitar ajuda quando sentir que algo não está bem.
Muitas mulheres podem se sentir desconfortáveis em compartilhar determinados sentimentos e acabam sofrendo sozinhas, o que torna o puerpério uma fase muito mais difícil, menos tranquila e menos prazerosa do que ela realmente pode ser.
Portanto, não hesite em conversar com seu parceiro, um familiar, uma amiga ou qualquer pessoa que esteja ao seu lado nesse momento. Tenha sempre em mente que você não precisa passar por isso sozinha.
O papel da rede de apoio
Pedir a ajuda de amigos, de familiares e do seu parceiro durante o puerpério é algo que pode e deve ser feito sempre que a mãe sentir vontade. Afinal, ela acabou de passar por um longo período de gestação e pelo parto e agora irá lidar com muitas novidades, dúvidas, emoções e o cansaço do puerpério.
Ainda, você não precisa e, provavelmente, não vai conseguir fazer tudo sozinha. Por isso, aceite ou peça ajuda. Alguém pode lhe auxiliar preparando uma refeição, colocando uma roupa para lavar, segurando o bebê para você tomar um banho, cuidando do seu filho mais velho se for o seu caso, enfim, várias tarefas podem ser delegadas para sua rede de apoio. Assim, você terá mais tempo para dar atenção ao novo membro da família e também para descansar, o que é muito importante nesse período.
Ainda nesse sentido, vale a pena envolver o seu parceiro desde o início da gestação. Além de se sentir mais importante durante todo esse processo, ele também entenderá melhor o que acontece com a mãe no puerpério e qual é o papel dele nesse momento.
Quer saber mais sobre esse assunto? Confira nosso artigo sobre paternidade ativa. Mais do que um grande incentivo aos papais de plantão, é uma oportunidade para conhecer as ações que podem ser encaminhadas por eles durante a gestação e os benefícios que essa participação ativa traz para toda a família.