Imagem do rostinho de um bebê. Ele está deitado, tem a pele clara e os olhos castanhos. Está usando uma chupeta verde oliva e uma touca tricô cru. Ele está segurando um ursinho também feito de tricô.

Uso da chupeta: o que os pais precisam saber

A hora de montar o enxoval do bebê é muito especial, mas também gera muitas dúvidas, principalmente para as famílias de primeira viagem. Afinal, o que é imprescindível e o que é opcional? A chupeta é um item comum para o recém-nascido e o seu uso tornou-se um hábito entre bebês e crianças do mundo todo, mas muitos pais adquirem esse item sem saber se realmente vão precisar utilizar.

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, cerca de 2/3 das mães oferecerão chupeta a seus filhos em algum momento no primeiro ano de vida. A introdução costuma ser bem precoce: a maior parte das crianças recebe chupeta entre o 1º dia e a 1ª semana de vida. 

Apesar do uso da chupeta ser um hábito entre as crianças brasileiras, já se observa uma redução expressiva na frequência de uso, passando de 57,7% para 42,6%. No entanto, essa escolha ainda é feita de forma não consciente dos malefícios e possíveis benefícios, sendo oferecida precocemente e permanecendo na vida das crianças ao longo de toda a primeira infância.

Afinal, ela é um item necessário ou pode ser dispensada? O uso da chupeta para acalmar é uma escolha da família, juntamente com os profissionais de saúde envolvidos, mas é importante saber os prós e contras para tomar a decisão de forma consciente. 

Confira neste texto tudo o que você precisa saber sobre o uso da chupeta. Se ela já foi introduzida por aí, veja dicas para fazer a retirada de forma gentil e saudável.

Por que o bebê tem necessidade de sucção?

Antes de falar sobre o uso da chupeta, é preciso entender melhor sobre a necessidade de sucção do bebê. Segundo estudos de revisão sobre o uso da chupeta e o comportamento do bebê, a sucção ocorre desde a barriga da mãe, começando entre a 17ª e a 24ª semana de vida intrauterina. Inclusive, é comum flagrar os pequenos sugando o dedo pelas imagens de ultrassom. Depois que nascem, as crianças já possuem reflexos adaptativos (busca, sucção e deglutição) que as auxiliam a sobreviver. 

O mesmo artigo explica que mamar é a forma que o recém-nascido tem de suprir a fome – e isso lhe proporciona prazer na medida em que sua fome é saciada. Com o tempo, a amamentação em livre demanda não satisfaz apenas as necessidades nutritivas, mas também essa busca por prazer. Ou seja, mesmo na ausência de fome, a sucção se torna um hábito para satisfação emocional. 

Sabendo que o bebê acabou de chegar no mundo, é esperado que ele apresente a sucção como um reflexo inato logo ao nascer, característica importante para o desenvolvimento nutricional do bebê, mas também para o seu conforto, desenvolvimento oral e sensorial.

Por que pais e cuidadores recorrem ao uso da chupeta?

Recursos para acalmar bebês são usados há milênios. Há registros dos séculos II e IV que se referem a objetos açucarados e mel usados para acalmar os recém-nascidos. Escavações de tumbas de bebês que viveram há 3 mil anos revelaram a existência de peças feitas de argila com orifícios para que o bebê pudesse sugar mel ou outros líquidos. 

Os pais e outros cuidadores sempre buscaram formas de satisfazer as necessidades de sucção dos bebês. A chupeta surgiu como forma de consolo e conforto para os pequenos, principalmente dos que não são alimentados no seio. 

Isso acontece porque, ao se alimentar pela mamadeira, o bebê satisfaz as necessidades nutricionais, mas nem sempre as de prazer. E mesmo para bebês que mamam em livre demanda, a chupeta pode ser um recurso para favorecer o descanso da mãe e dos demais cuidadores.

Necessidade de sucção

Como você viu anteriormente, o bebê sente necessidade de sucção não nutritiva. É algo que não é satisfeito pela mamadeira, por exemplo. Por isso que bebês que não foram amamentados por algum motivo, podem utilizar a chupeta para sanar essa necessidade.

Ainda, estudos trazem que a estimulação por meio da sucção não nutritiva pode auxiliar na melhora da coordenação da sucção, com a deglutição e a respiração, em pacientes neuropatas ou prematuros, funções essenciais para que a alimentação aconteça de forma adequada. 

Outra utilidade dessa forma de sucção é a antecipação do começo da alimentação por via oral em recém-nascidos que foram alimentados por sonda nasogástrica, pois antecipa o início da sucção nutritiva, contribuindo para o desenvolvimento oromotor e a maturação de recém-nascidos prematuros.

Redução do estresse

A necessidade de sucção não nutritiva também pode contribuir com a redução do estresse nos bebês. Segundo o estudo já citado acima, ela pode aumentar o limiar de dor em recém-nascidos, melhorar a qualidade do sono (em crianças entre 1 e 4 anos), reduzir os batimentos cardíacos tanto na vigília quanto no sono e melhorar o ganho de peso quando associada à música em prematuros. 

Vale ressaltar que a pesquisa também usou o leite materno ordenhado e, nesse caso, os recém-nascidos reagiram com menor aumento da frequência cardíaca e do choro do que aqueles que usaram chupeta, ressaltando que a amamentação deve ser priorizada sempre que possível. 

Ainda são necessários mais estudos sobre o assunto, mas é possível entender que na ausência da amamentação e do leite materno, a chupeta poderia se fazer presente em situações específicas.

Quando introduzir a chupeta?

Para as mulheres que desejam amamentar, a Academia Americana de Pediatria (AAP) recomenda que se espere a total adaptação do aleitamento, de preferência quando a criança estiver em torno de 3 a 4 semanas de vida. 

A Sociedade Brasileira de Pediatria também orienta que se a opção for por oferecer chupeta à criança, que sua introdução deve ocorrer após a amamentação estar estabelecida, ou seja, com o bebê mamando bem, ganhando peso por mais de duas semanas e a mãe sem fissuras ou dores no momento de amamentar. 

Quais são as consequências da chupeta para a criança?

Se a chupeta foi recomendada por um profissional ou introduzida pelos pais por vontade própria, é importante compreender que o seu uso pode trazer algumas consequências. Conhecê-las é uma excelente forma de decidir se vale a pena optar pelo uso ou não, e por quanto tempo. Confira as principais delas:

Desmame precoce

Amamentar pode ser um grande desafio para a maioria das mães. Se você tem esse desejo e quer estender o tempo de aleitamento materno, o recomendado é não oferecer chupeta para o seu bebê, já que, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, ela está associada à menor duração da amamentação.

O desmame precoce é uma das consequências mais discutidas no meio científico quanto ao uso da chupeta. Já existem evidências consistentes de que o desmame entre um e 24 meses é mais frequente em crianças usuárias de chupeta, quando comparadas com crianças que não possuem esse hábito. 

Confusão de bicos

Isso ocorre porque a chupeta pode causar confusão de bicos e prejudicar o estabelecimento da amamentação, principalmente nas primeiras semanas de vida. Culturalmente, a chupeta tem sido associada à criança e é oferecida, muitas vezes, antes do estabelecimento da amamentação pela influência de avós ou tias, provocando alterações nos movimentos da língua e musculatura perioral. 

Dessa forma, as crianças que usam chupeta tendem a colocar a língua na posição errada, na hora de sugar o seio. Não conseguindo retirar o leite, choram de fome e o rejeitam, o que favorece o desmame precoce. Essa dinâmica é conhecida como confusão de bicos.

Por isso, se o desejo for manter a amamentação por mais tempo do que o mínimo de seis meses recomendado pelos órgãos de saúde, ela deve ser evitada ao máximo. É que bebês com reflexos orais maduros e ordenha já aprendida também podem apresentar confusão de bicos.

Diminuição da produção de leite

Outro problema ocasionado pela chupeta é o espaçamento entre as mamadas. Com o bebê sugando menos o seio da mãe, a produção de leite tende a cair por receber menos estímulo. Com o tempo, a produção estabelecida pela menor demanda do bebê, em função da introdução da chupeta, pode não ser suficiente. No caso de o bebê precisar de suplementação, a chance de desmame é ainda maior.

Dor de ouvido (otite)

Você sabia que a dor de ouvido é mais comum em crianças que usam chupeta? A Sociedade Brasileira de Pediatria aponta uma ocorrência 33% maior de otite média nas crianças menores de 18 meses que a utilizam. 

A explicação parece estar na forma que o bebê faz a sucção. Quando ele suga a chupeta, o músculo responsável pelo funcionamento da tuba auditiva (canal de comunicação entre o ouvido e a garganta) não é estimulado de forma adequada, o que seria diferente se a sucção fosse no seio da mãe. Isso favorece o acúmulo de secreção nos ouvidos e, consequentemente, as otites. Vale lembrar que otites frequentes podem afetar o desenvolvimento da criança.

Problemas na dentição e no desenvolvimento oral

A sucção no seio é essencial para o desenvolvimento da boca e da dentição. Se a criança suga a chupeta e faz movimentos diferentes do que deveria, acaba não fortalecendo os músculos necessários para essa formação. Isso pode levar a problemas na mastigação, na deglutição, na fala, no alinhamento dos dentes, na respiração, entre outros. 

Prejuízos na comunicação

Bebês e crianças choram e precisam da atenção dos adultos, o que é perfeitamente normal e esperado – essa é a principal forma de comunicação deles, especialmente no início da vida. Porém, a criança que usa chupeta acaba chorando e comunicando menos as suas necessidades, solicitando menos a atenção dos adultos ao seu redor. 

Com isso, ela tem menos oportunidades de interação e acaba sendo menos estimulada, o que pode render prejuízos na comunicação de um modo geral e nas habilidades de socialização.

Outras condições de saúde

As chupetas são um prato cheio para fungos e bactérias. As aftas e a candidíase oral, conhecida popularmente como “sapinho”, por exemplo, são comuns em crianças que usam chupeta. Essas doenças podem levar a infecções e afetar o sistema imunológico da criança. 

A Sociedade Brasileira de Pediatria alerta ainda que o uso da chupeta está associado a uma maior incidência de diarreia, respiração ruidosa, asma, vômitos, febre e cólicas.

Como reduzir as complicações do uso da chupeta?

  • Utilize pelo menor tempo possível: a Sociedade Brasileira de Pediatria orienta que a chupeta seja usada até no máximo um ano de idade;
  • Retire assim que a criança se acalmar ou adormecer;
  • Entenda a real necessidade: verifique primeiro a origem do choro (fome, sono, calor, frio, fralda suja) antes de oferecer a chupeta;
  • Se a chupeta é usada em momentos de necessidade, procure usar outras formas de o bebê acalmar como uma naninha ou ouvir uma música.

Dicas para o pequeno largar a chupeta

A maneira de retirar a chupeta varia conforme a criança e a idade. Quanto mais o tempo passar, maior será o desafio e a dedicação dos pais para que isso aconteça. Não existe uma receita mágica, mas é possível fazer a retirada de forma gentil e saudável. 

O ideal é que os pais tentem entender quais as motivações do uso da chupeta, se ela ainda é realmente necessária ou se já virou um hábito. Pensando na condição individual de cada criança, você pode seguir as dicas abaixo:

1. Retire a chupeta aos poucos

A chupeta jamais deve ser retirada de forma abrupta, especialmente se o bebê já estiver maior. Isso evita situações de estresse que só prejudicam o processo e podem trazer efeito contrário: a criança se apegar ainda mais à chupeta. Será preciso paciência e muita conexão entre os pais e a criança para que ela se sinta pronta para o momento. Comecem diminuindo a frequência, fazendo ela escolher locais ou horários específicos para o uso e definam onde ela será guardada. 

2. Converse com o pequeno

Os pequenos entendem muita coisa ao seu redor. Para retirar a chupeta não minta ou faça chantagens. É necessário ter conversas honestas e realistas com a criança sobre a necessidade de retirada da chupeta. 

Esse objeto é muito importante para a criança. Por isso, inventar histórias como “a chupeta está com bichinhos” ou dizer que um personagem a roubou pode gerar associações negativas e traumas em um cenário que até então era afetuoso. Também não diga que é feio usar chupeta, que é “coisa de bebê” ou que é errado, apenas que ela fez parte de uma fase da vida e agora não é mais necessária.

3. Invista no lúdico

Por mais que a conversa seja honesta com o pequeno, você pode usar ferramentas lúdicas de forma positiva. Quando o pequeno estiver pronto para a retirada, vocês podem “chamar a fada da chupeta” para buscá-la. Mas lembre-se sempre que isso não pode soar como uma chantagem, e sim como um ritual de um processo que está terminando na vida dele.

4. Estabeleça um prazo

Se você perceber que faz sentido, converse e combine com a criança um prazo para o abandono da chupeta. Pode ser em um aniversário ou uma data especial, mas sem pressão ou urgência. Estabelecer uma data deve estar atrelado a toda a evolução do processo.

5. Sugira trocar a chupeta por algo

A chupeta é um objeto de regulação emocional para a criança. Busquem juntos outras formas de obter essa segurança, por meio de um pano, um bichinho ou um travesseiro. Porém, tome cuidado com trocas que podem não ser satisfatórias. Por exemplo: oferecer um brinquedo que a criança queira muito se ela largar a chupeta. Esse brinquedo vai suprir a necessidade trazida pela chupeta? Se não, busque alternativas mais viáveis.

6. Mantenha firme a decisão

Se a transição foi feita com carinho e respeito e acordada entre você e a criança, mantenha a decisão firme. Podem haver recaídas da decisão no meio do processo, por isso é tão necessário que essa retirada seja feita da forma mais gentil e tranquila possível, para evitar ceder aos pedidos da criança e perder toda a evolução conquistada.

7. Procure ajuda profissional

Se a tentativa de retirada da chupeta estiver causando desconfortos e estresse para vocês, procure ajuda profissional. O uso de chupeta por crianças que já adquiriram a fala, por exemplo, é um sinal de alerta. 

Os pais podem observar e refletir sobre qual a função psíquica da chupeta na vida dessas crianças. Cientes do motivo, e com apoio profissional, será possível ter uma conduta positiva para fazer essa retirada. Muitas vezes os pais não entendem os motivos que levam a criança maior a ainda usar chupeta, o que também demonstra a necessidade de uma ajuda profissional. 

Dicas para acalmar o bebê sem a chupeta

Acalmar o bebê, especialmente um recém-nascido, pode ser bem desafiador para os pais e cuidadores. Se você deseja evitar a chupeta ou adiar o uso, experimente algumas técnicas como:

  • Ninar o bebê fazendo o som de “xiii”;
  • Deixar o bebê em contato pele a pele com a mãe quando possível;
  • Colocar o bebê no sling enquanto caminha ou faz suas atividades;
  • Usar uma bola de pilates para ajudar a balançar o bebê de forma suave e rítmica;
  • Dar um banho relaxante de banheira ou “ofurô”;
  • Fazer um “charutinho” para ele dormir;
  • Utilizar ruídos brancos (como sons do coração, da natureza, da chuva) para ele lembrar do som do útero;
  • Conversar, usar música, cantar ou contar histórias;
  • Pedir ajuda para a sua rede de apoio para que não falte colo e atenção para o pequeno e descanso para a mamãe.

Lembre-se que, independente da sua escolha de usar ou não a chupeta, você está fazendo o seu melhor. O amor que você transmite ao seu bebê com colo, cuidado e proteção é o que realmente importa pra ele nesse início de vida. Com muita calma, paciência e carinho vocês vão aprendendo a lidar com as novas situações e emoções juntos. Aproveite a jornada!

Quer mais informações e dicas para se preparar para a chegada do bebê? Acompanhe o perfil do Be Generous no Instagram.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Uso de chupeta em crianças amamentadas: prós e contras. Guia prático de atualização. Departamento Científico de Aleitamento Materno, 2017. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/Aleitamento-_Chupeta_em_Criancas_Amamentadas.pdf. Acesso em: 3 de janeiro de 2024.

CASTILHO, Silvia Diez; ROCHA, Marco Antônio Mendes. Uso de chupeta: história e visão multidisciplinar. Jornal de Pediatria, 2009. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/jped/a/kb9GKFQbdP6d3VCfJHHwbXp/#>. Acesso em: 3 de janeiro de 2024.