Como identificar e tratar a alergia alimentar em bebê?

Parece pouco provável, mas a alergia alimentar em bebê pode ocorrer ainda nos primeiros meses de vida, mesmo quando a alimentação é exclusivamente o leite materno. Para entender melhor como isso acontece e saber mais sobre o assunto, acompanhe o artigo até o final.

 

O que é alergia alimentar em bebê?

Vamos considerar que o nosso sistema imunológico funciona como um grande “exército”, capaz de reconhecer e defender o corpo contra possíveis agressores. As células atuam como soldados e reagem de forma organizada e coordenada para combater o “invasor”. Porém, às vezes, essa reação pode acontecer de forma exagerada com pequenos estímulos que não são perigosos, causando o que conhecemos como alergia.

Ao detectar um alérgeno, o corpo passa a produzir anticorpos com o intuito de protegê-lo. Eles são responsáveis por desencadear uma reação chamada degranulação, liberando histamina (substância produzida pelas células para regular a resposta imunológica e as reações do corpo, como a alergia) e outras substâncias que chamam todo o “exército” para combater o alérgeno.

Essas substâncias geram um processo inflamatório e causam os sintomas típicos de alergia que conhecemos: coceira, vermelhidão, inchaço e, em casos mais graves, choque anafilático (rápido fechamento das vias aéreas que pode levar a morte).

Nos pequenos, não é diferente. A alergia alimentar em bebê se manifesta da mesma forma que nos adultos e pode acontecer nos primeiros dias ou meses de vida. Nesse caso, o alimento que causa a alergia está sendo ingerido pela mãe e repassado ao bebê por meio do leite materno. 

Vale destacar, portanto, que o leite materno não causa alergia, mas sim os alimentos ingeridos pela mãe. Em geral os alérgenos são as proteínas, como a do leite de vaca, ovos, peixes, frutos do mar, trigo, entre outros. 

 

Qual a diferença entre alergia e intolerância alimentar?

Muita gente costuma confundir alergia e intolerância alimentar. Enquanto a primeira é uma reação do sistema imunológico, a intolerância pode estar relacionada à falta de uma enzima, como a lactase, toxinas ou uma aversão psicológica a determinados alimentos.

Além disso, a intolerância é mais comum em adultos com predisposição genética. Nesses indivíduos, por exemplo, a enzima lactase diminui com o passar dos anos, dificultando a digestão da lactose, causando distensão abdominal, cólica, diarreia, entre outros sintomas.

Em crianças, a alergia alimentar costuma ser mais comum do que a intolerância. Sua reação pode acontecer imediatamente após o consumo de alimentos (reações mediadas pelo IgE) ou aparecer dias depois (reações de mecanismo misto ou não IgE).

 

Qual a relação entre a alergia alimentar e o intestino?

A flora intestinal apresenta funções importantes, como a absorção de nutrientes e a defesa do organismo. Uma vez desregulada, ocorre um processo chamado disbiose intestinal, que afeta a absorção de nutrientes, principalmente devido ao declínio de bactérias benéficas e o predomínio de bactérias patogênicas. 

Essas bactérias, juntamente com outras toxinas, são capazes de danificar o trato gastrointestinal, abrindo “buracos” no epitélio intestinal e contribuindo para o surgimento de doenças como o leaky gut ou síndrome do intestino permeável.

Dessa forma, as moléculas dos alimentos que não são digeridas atravessam esses “buracos” e são consideradas “invasoras” pelo sistema imune, fazendo com que nosso “exército” entre em ação e causando a alergia. Por isso, a importância de manter uma microbiota intestinal saudável, com bactérias benéficas que auxiliam na digestão e absorção de nutrientes.

Microbiota intestinal dos bebês

Para se ter uma ideia, ainda durante a gestação ocorre a transferência de microrganismos da mãe para o feto. A partir disso, a microbiota infantil e seus genes passam por diversas mudanças que acompanham todo o desenvolvimento do pequeno até os 3 anos. Todo esse processo sofre influência direta da genética, dos fatores ambientais, do uso de medicamentos, como antibióticos, e da própria amamentação.

O leite materno também influencia a formação da microbiota do bebê, pois contém bactérias probióticas naturais, além de ser rico em oligossacarídeos (prebióticos), que auxiliam no desenvolvimento da flora da criança. Assim, quanto maior o número de bactérias benéficas, menores as chances de um desequilíbrio na microbiota intestinal e do surgimento de alergias alimentares nos pequenos. 

 

Como saber se o bebê está com alergia a algum alimento?

De modo geral, os sinais ou sintomas de alergia alimentar em bebê são facilmente confundidos com comportamentos típicos dos primeiros meses de vida, como cólicas e regurgitação, por exemplo, o que dificulta sua identificação imediata. Isso porque as reações mais comuns costumam ser no trato gastrointestinal. Embora crianças mais sensíveis possam apresentar também reações cutâneas, como coceira ou vermelhidão na pele, e anafilaxia (nos casos graves).

Sinais e sintomas

Alguns sinais e sintomas que podem caracterizar uma alergia alimentar em bebê são:

  • pele avermelhada e ressecada;
  • coceira na pele, no nariz e nos olhos;
  • nariz congestionado ou escorrendo;
  • tosse;
  • chiado no peito;
  • dificuldade para respirar;
  • língua, lábios ou rosto inchados;
  • cólicas e gases;
  • refluxo;
  • diarreia ou constipação intestinal;
  • vômito.

Diagnóstico

Como alguns desses sintomas são comuns nos primeiros meses de vida, o diagnóstico de uma alergia alimentar em bebê pode necessitar de acompanhamento prolongado, além de uma história clínica detalhada e criteriosa. Na maioria das vezes, somente com orientação médica e exames específicos é possível identificar o que está causando a reação, o tipo de alergia e o tratamento a seguir.

Por isso, ao desconfiar de uma possível alergia alimentar, é importante ficar alerta aos sinais e sintomas do pequeno e relatar ao médico pediatra para uma investigação mais aprofundada e o diagnóstico adequado.

 

Quanto tempo dura uma alergia alimentar em bebê?

Quando se trata de alergia, os sintomas e reações podem variar muito de um bebê para outro. Em alguns casos, os sinais se manifestam logo após a ingestão do alérgeno. Em outros, pode demorar horas ou dias. Assim como os sintomas se manifestam de forma irregular, o tempo de duração também pode variar de acordo com a gravidade e o tratamento realizado.

 

Quais alimentos podem causar alergias?

De acordo com o Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar, embora qualquer alimento possa causar alergia, cerca de 80% das manifestações ocorrem com a ingestão de:

  • leite de vaca;
  • ovos;
  • amendoim;
  • nozes;
  • soja;
  • trigo;
  • peixes;
  • crustáceos.

Essas manifestações estão relacionadas principalmente com as proteínas desses alimentos. Além disso, outros fatores podem contribuir para o desenvolvimento da alergia alimentar em bebês. São eles:

  • herança genética;
  • consumo de cigarro e álcool durante a gestação;
  • aleitamento com fórmulas;
  • introdução precoce a alimentos sólidos;
  • insuficiência de vitamina D;
  • comorbidades alérgicas, com a asma, por exemplo;
  • excesso de limpeza (o que impossibilita o contato da criança com microrganismos e, consequentemente, o desenvolvimento do sistema imunológico).

 

Como tratar uma alergia alimentar em bebê?

Existem três formas de tratar a alergia alimentar em bebê, criança ou mesmo adulto.

  1. Exclusão dos alimentos que causam alergia: o primeiro passo é identificar  e eliminar os alimentos que causam alergia. Essa tarefa exige cuidado, atenção e leitura do rótulo dos produtos, pois mesmo em pequenas quantidades, os alérgenos podem causar reações em algumas pessoas. Mamães que estão amamentando precisam de orientação médica, pois dietas restritivas podem comprometer a ingestão de nutrientes importantes para elas e os bebês.
  2. Uso de medicamentos: quando um alimento que causa alergia é ingerido, por descuido ou desconhecimento, o uso de medicamentos como antialérgicos (anti-histamínicos) e corticóides podem ser utilizados, assim como a adrenalina em casos graves (anafilaxia). 
  3. Adoção de medidas preventivas: consiste em uma série de ações que iniciam ainda durante a gestação e correspondem a uma das medidas mais efetivas no tratamento contra alergias alimentares. Confira a seguir quais são elas.

 

Como prevenir?

Assim como um exército, o sistema imune precisa ser bem liderado para reconhecer os verdadeiros inimigos. Por isso, algumas medidas eficazes para manter o organismo saudável e evitar a alergia alimentar em bebê são:

  • manter bons hábitos alimentares durante a gestação, assim como uma dieta pós-parto, com o intuito de garantir uma flora intestinal equilibrada e saudável;
  • estimular a amamentação pelo maior tempo possível, sendo o ideal até os 2 anos de idade;
  • iniciar a introdução alimentar a partir dos 6 meses de idade com frutas, verduras e carnes orgânicas, evitando alimentos processados ou ricos em gorduras e açúcares;
  • manter a vitamina D em dia, pois atua como uma potente moduladora de imunidade.

Ainda, a maioria das crianças que apresentam alergia alimentar quando bebê, passam a tolerar os alimentos com o passar do tempo, graças ao amadurecimento do sistema imunológico.

Por isso, papais a mamães, vale a pena aderir a uma alimentação balanceada e rica em nutrientes ainda na gestação e seguir com ela durante toda a infância. Caso tenha dúvidas sobre por onde começar, acesse nosso conteúdo “Guia da alimentação saudável infantil: do nascimento à primeira infância” e confira dicas incríveis para te auxiliar com os pequenos.

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