Imagem fechada em duas mãos de criança. Elas estão cheias de balas coloridas, representando o perigo do açúcar para bebê.

Por que não é recomendado açúcar para bebê?

Nós, adultos, sabemos a delícia que é um docinho e a vontade é de apresentar logo o novo sabor ao pequeno. É normal compararmos o nosso paladar, que já é desenvolvido e que sente a necessidade de algo mais doce, com o do bebê, que ainda está em desenvolvimento e desconhece esse sabor. 

Por esse motivo, o açúcar ainda é introduzido muito cedo na dieta dos pequenos, às vezes  até nos primeiros meses de vida. Mas você sabe quais são os impactos desse consumo precoce? 

Confira neste texto por que não se deve dar açúcar para bebê, quais são as recomendações atuais e as alternativas para uma alimentação mais saudável e equilibrada desde a primeira infância.

Por que não dar açúcar para bebê?

Se tem algo que é unânime entre os órgãos oficiais, como a Organização Mundial da Saúde – OMS, o Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Pediatria, é que não se deve dar açúcar para bebês. Essa recomendação tem como base os riscos à saúde e o impacto negativo que o açúcar pode causar no desenvolvimento infantil e mesmo na vida adulta. Entre eles estão:

Saúde bucal

O açúcar é o principal alimento das bactérias causadoras de cárie, uma lesão no esmalte dos dentes que pode ser muito dolorosa e afetar a qualidade de vida das crianças. No caso dos bebês, o problema pode se tornar ainda maior, pois ainda estão passando pelo processo de formação dos dentes. 

O esmalte dental incompleto, a menor produção de saliva e mesmo a dificuldade em realizar a higiene bucal de forma correta podem potencializar essas cáries caso o consumo de açúcar seja iniciado de forma precoce.

Excesso de calorias, deficiência de nutrientes

Preparações doces e alimentos açucarados costumam oferecer calorias vazias, ou seja, sem os nutrientes essenciais para o bom desenvolvimento dos pequenos. Sem contar que outros  alimentos, fontes de vitaminas, minerais e fibras, como as frutas, os legumes e as verduras, podem se tornar menos atrativos quando comparados aos mais doces.

Esse tipo de alimentação, rica em calorias e deficiente em nutrientes essenciais, pode contribuir para o sobrepeso e a obesidade, tanto na infância quanto na vida adulta. Isso acontece porque os alimentos açucarados geralmente não saciam tanto quanto os que contêm proteína, por exemplo, o que pode levar o bebê a comer mais do que o necessário.

Ainda, o açúcar provoca a liberação de dopamina no cérebro, um neurotransmissor responsável pela sensação de prazer. Como resultado, o bebê pode sentir a necessidade de comer ainda mais alimentos doces, criando um ciclo constante de fome e dificultando o controle do apetite. Sem contar que, em excesso, a dopamina pode levar à euforia e à hiperatividade dos pequenos.

Efeito Sugar Crash (ausência de açúcar)

Quando o bebê está acostumado a ingerir açúcar e fica sem, o corpo libera hormônios ligados ao estresse, como o cortisol e a adrenalina. Para compensar essa ausência, esses hormônios acabam liberando o açúcar que está armazenado nos tecidos do corpo, gerando uma inflamação geral no organismo que leva a uma sensação de cansaço extremo. 

Como os bebês ainda não sabem lidar com as suas emoções, os pequenos acabam expressando esse sentimento de modo exagerado, com choros, birras e mesmo episódios de agressividade.

Riscos para a saúde em geral

A introdução precoce do açúcar na alimentação de bebês também pode causar distúrbios digestivos, como diarreia ou constipação e cólicas.

Ainda sobre os malefícios do açúcar na primeira infância está um risco maior no desenvolvimento de doenças crônicas na vida adulta, como diabetes tipo 2 e doenças cardíacas. Em relação às doenças cardiovasculares, os riscos estão relacionados principalmente ao ganho de peso, à pressão arterial elevada e ao aumento de gordura no fígado, fatores associados aos açúcares adicionados aos alimentos.

Desenvolvimento do paladar

Se o bebê continuar sendo estimulado a consumir alimentos cada vez mais doces e sem que tenha contato com outras preparações que despertem novos sabores e sensações no paladar, como o amargo, o azedo ou até mesmo o doce natural dos alimentos in natura, a qualidade da alimentação dessa criança poderá ser prejudicada.

A tendência é que esse pequeno tenha preferência por alimentos açucarados ou adoçados durante toda a infância e mesmo ao longo da vida, prejudicando o desenvolvimento do paladar e tornando cada vez mais difícil a apreciação de novos sabores.

Existe idade adequada para introduzir o açúcar?

Sim. Segundo o Guia Alimentar Para Crianças Brasileiras Menores de 2 anos, do Ministério da Saúde, nos dois primeiros anos de vida, frutas e bebidas não devem ser adoçadas com nenhum tipo de açúcar.

 Também não devem ser oferecidas preparações que tenham o ingrediente, como bolos, biscoitos, doces e geleias. Portanto, a idade recomendada para o início da introdução do açúcar é após os dois anos.

E após os dois anos?

Quando a criança completa dois anos e, tecnicamente, deixa de ser um bebê, não significa que ela possa consumir açúcares sem que isso gere prejuízos à sua saúde. O ideal é manter uma alimentação saudável, com alimentos in natura, evitando os ultraprocessados e priorizando produções caseiras.

Quantidade recomendada

Segundo a Sociedade de Pediatria de São Paulo, caso a criança consuma açúcar regularmente, a quantidade máxima deve ser de até 25 gramas ao dia (o que corresponde a 5 colheres de chá). Essa quantidade está contida, por exemplo, em 40 gramas de chocolate ao leite.

Ainda, no ano de 2015, a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu uma recomendação sobre o consumo de açúcar, destacando a importância de reduzir significativamente a ingestão de açúcares adicionados, tanto por adultos quanto por crianças. 

No documento, a OMS sugere que a quantidade de açúcares totais consumidos seja mantida abaixo de 10% da ingestão total de energia, e que nenhum açúcar de adição seja utilizado até os dois anos de idade.

Açúcar total e açúcar adicionado

Para entender melhor sobre o açúcar consumido é importante esclarecer a diferença entre o açúcar total e o açúcar adicionado aos alimentos, principalmente depois que a nova lei de rotulagem entrou em vigor. Como você deve ter notado, agora os rótulos fornecem uma descrição clara e precisa sobre a quantidade de açúcar adicionado, permitindo identificar facilmente os produtos com alto teor desse ingrediente. 

Mas vamos lá! Açúcar adicionado é aquele que não está naturalmente presente nos alimentos, ou seja, ele é adicionado durante o processamento ou o preparo. Geralmente é utilizado para aumentar o sabor, a doçura ou a textura. Pode ser encontrado em produtos como refrigerantes, biscoitos, sucos industrializados, cereais matinais, molhos prontos, entre outros.

Já o açúcar total contempla, além do que é adicionado, o açúcar que está presente naturalmente nos alimentos, como a frutose presente nas frutas e nos legumes, a lactose presente no leite, entre outros.

Quais alimentos açucarados devem ser evitados até os 2 anos?

O açúcar presente naturalmente nas frutas, verduras, legumes e leite fresco não deve ser considerado na restrição para as crianças. Em compensação, todos os tipos de alimentos com alto teor de açúcares adicionados devem ser evitados ou excluídos do cardápio dos pequenos.

Tipos de açúcares

Quando se fala em açúcar adicionado deve-se ficar atento a todos os tipos, como: 

  • branco;
  • mascavo;
  • cristal;
  • demerara;
  • açúcar de coco;
  • xarope de milho;
  • mel e melaço;
  • rapadura.

Alimentos ultraprocessados que contêm açúcar adicionado

O açúcar também está presente em grande parte dos alimentos ultraprocessados como: 

  • refeições prontas;
  • temperos industrializados;
  • achocolatados;
  • bebidas açucaradas;
  • cereais matinais;
  • gelatina em pó com sabor;
  • mingaus instantâneos preparados com farinhas de cereais (de arroz, milho e outros);
  • iogurte com sabores e tipo petit suisse;
  • guloseimas como balas, chicletes, pirulitos e chocolates;
  • biscoitos e bolachas doces.

E os adoçantes?

Os adoçantes também não devem ser oferecidos nas preparações para crianças na primeira infância (até os 3 anos), mesmo os naturais, porque podem interferir no desenvolvimento do paladar. 

Já para crianças em idade escolar (a partir de 4 anos), caso necessário, recomenda-se o uso de adoçantes naturais como a estévia. Outra opção é a Palatinose™, ou isomaltulose, um carboidrato caracterizado por seu baixo índice glicêmico. 

Como evitar o consumo do açúcar para bebê?

O consumo de açúcar para bebê pode ser evitado com algumas mudanças na rotina. Confira as principais:

1. Preparar as refeições em casa

Ao preparar suas próprias refeições, você tem o controle total sobre os ingredientes e o que é consumido, podendo utilizar alimentos mais saudáveis e sem açúcar. 

Essa prática também oferece uma oportunidade para envolver as crianças na preparação das refeições, apresentando uma variedade de cores, texturas, aromas e sabores e promovendo uma conscientização sobre uma alimentação saudável e saborosa.

2. Optar por alimentos in natura e saudáveis

Se o seu bebê está consumindo os alimentos adequados para crescer saudável, há pouco espaço em sua dieta para alimentos prejudiciais com baixo valor nutricional, onde se encontram os maiores teores de açúcares adicionados.

Portanto, a estratégia mais eficaz para prevenir a adição de açúcares na dieta do seu bebê, hoje e quando ele for maior, é oferecer principalmente alimentos nutritivos, como frutas, vegetais, grãos integrais, carnes magras, aves e peixes, e limitar o consumo de alimentos com baixo valor nutricional, como as guloseimas

Atenção para os sucos de frutas

Os sucos de frutas industrializados, em geral, tem alto teor de açúcar e devem ser evitados. Também é importante ter cautela com o consumo de sucos de frutas naturais. É que eles acabam tendo poucas fibras em comparação às frutas in natura, e, por isso, desencadeiam uma resposta glicêmica mais elevada. 

O consumo excessivo também pode alterar o paladar do bebê, que pode preferir apenas bebidas mais doces e evitar o consumo de água, por exemplo. A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que os sucos de frutas devem ser oferecidos apenas após o primeiro ano e no limite de 120 ml por dia.

3. Ler o rótulo dos produtos

É importante ler os rótulos dos alimentos antes de oferecer ao seu bebê, pois alguns tipos de açúcar podem estar “encondidos” nos alimentos. Quantos dos nomes descritos na listagem abaixo, por exemplo, você sabia que são tipos de açúcar que podem ser adicionados aos produtos?

  • Sacarose;
  • glicose;
  • frutose;
  • xarope de milho;
  • maltodextrina;
  • dextrose;
  • xarope de glicose-frutose;
  • xarope de milho;
  • mel;
  • açúcar de cana;
  • açúcar mascavo;
  • melaço;
  • suco de cana evaporado;
  • xarope de bordo;
  • xarope de arroz;
  • açúcar invertido;
  • néctar de agave;
  • xarope de malte;
  • concentrado de suco de fruta;
  • cristais de açúcar.

Lembrando que nos rótulos os ingredientes aparecem na lista sempre em ordem decrescente, ou seja, da maior quantidade presente no produto para a menor, com exceção dos aditivos alimentares que sempre devem aparecer por último.

4. Dar o exemplo

A exposição precoce a uma variedade de sabores desempenha um papel crucial na promoção de hábitos alimentares saudáveis ao longo da vida. Segundo um estudo sobre os fatores que influenciam os hábitos alimentares das crianças, os principais determinantes do comportamento alimentar são os pais. 

Por isso, seja o exemplo a ser seguido. Mantenha uma alimentação saudável e faça as refeições junto com seus filhos. Atitudes assim farão toda a diferença nas escolhas dos pequenos e irão impactar positivamente a saúde de toda a família.

Como fazer preparações sem açúcar para o seu bebê?

Caso você queira intensificar o sabor de algumas preparações, como bolos, você pode deixar o açúcar de lado e utilizar frutas in natura e secas. A maçã, a banana, a uva passa e a tâmara são excelentes opções para alcançar esse objetivo. 

Que tal aproveitar e já colocar a mão na massa? Seguem duas receitinhas fáceis de fazer e que certamente seu pequeno vai amar.

Bolo de maçã sem açúcar

Idade recomendada: a partir de 6 meses.

Ingredientes
2 maçãs sem casca picadas;

  • 1 banana-nanica madura;
  • 2 ovos;
  • 1 xícara (chá) de aveia em flocos finos ou farinha de aveia;
  • Meia xícara (chá) de farinha de trigo;
  • 1 colher (sopa) de canela em pó (opcional);
  • 1 colher (sopa) de fermento em pó;
  • 1 maçã com casca, em fatias finas (para decorar);
  • 1 colher (chá) de canela em pó (para decorar).

Modo de preparo

Em um liquidificador, bata as maçãs, a banana e os ovos até formar um creme. Em um recipiente, despeje esse creme e acrescente o restante dos ingredientes. Misture e reserve.

Aqueça o fogo a 180 °C. Enquanto isso, unte uma forma quadrada (21 x 21 cm), despeje a massa e decore com as fatias de maçãs por cima. Leve para assar por cerca de 30 minutos ou até que o palito saia limpo ao ser espetado. Polvilhe a canela e sirva. Dica: você também pode usar formas de muffins para fazer bolinhos.

Bolo de cenoura sem açúcar

Idade recomendada: a partir de 6 meses.

Ingredientes

  • 4 ovos;
  • 2 cenouras médias picadas;
  • Meia xícara (chá) de óleo;
  • 2 xícaras (chá) de farinha de amêndoas;
  • Meia xícara (chá) de uvas-passas brancas sem sementes aferventadas em água;
  • 1 colher (sopa) de fermento em pó;
  • 1 xícara (chá) de água.

Modo de preparo

Bata todos os ingredientes em um liquidificador, exceto o fermento em pó. Depois, adicione o fermento e mexa. Distribua a massa em 8 forminhas de cupcake untadas com óleo e polvilhadas com farinha de amêndoas. Leve para assar em forno médio (180 °C), pré-aquecido, por cerca de 40 minutos ou até que o palito saia limpo ao ser espetado.

A importância de oferecer uma alimentação saudável desde cedo

Uma alimentação saudável e equilibrada contribui para o crescimento e o desenvolvimento adequado dos bebês. Além de cuidar da saúde dos pequenos, a ingestão de nutrientes essenciais para o bom funcionamento do organismo também pode evitar transtornos alimentares no futuro e reduzir as chances de desenvolvimento de doenças na vida adulta.

 Quer aprender mais sobre como oferecer uma alimentação equilibrada ao seu bebê desde o início da introdução alimentar? Acesse o nosso conteúdo sobre alimentação saudável infantil.

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