Disquesia do lactente: o que é, como reconhecer e aliviar

Nos primeiros meses de vida, o seu bebê está descobrindo o mundo e o corpo dele ainda está aprendendo a funcionar. Isso inclui o amadurecimento do sistema digestivo e a forma de lidar com as evacuações. É nesse momento que muitos pais percebem sinais da disquesia do lactente – uma condição comum, temporária e, felizmente, sem gravidade, embora possa causar preocupação.

Aqui, vamos conversar sobre o que é, como identificar os sinais da disquesia e compartilhar dicas práticas e acolhedoras para ajudar você a enfrentar essa fase com mais tranquilidade e confiança. Boa leitura!

O que é disquesia?

A disquesia do lactente é uma condição gastrointestinal benigna comum em bebês recém-nascidos e que pode se estender pelos primeiros meses de vida. Sua principal característica é a dificuldade ou desconforto em evacuar, mesmo que as fezes estejam macias e normais.

É comum tanto em bebês que se alimentam exclusivamente de leite materno quanto naqueles que utilizam fórmulas infantis. A condição não está relacionada a problemas graves e tende a desaparecer com o desenvolvimento neuromuscular do bebê.

Diferença entre disquesia e prisão de ventre

A principal diferença entre disquesia e prisão de ventre está na consistência das fezes e na causa do problema. Na disquesia, o bebê apresenta esforço, mas as fezes são macias e normais.

Já na prisão de ventre, as fezes são endurecidas, a frequência de evacuações é reduzida e pode haver dor ou desconforto ao evacuar, sendo causada geralmente por retenção fecal ou alterações na alimentação.

O que causa a disquesia do bebê?

O que acontece na disquesia do lactente é que os sistemas gastrointestinal, nervoso e muscular do bebê ainda estão em desenvolvimento. Ele precisa “aprender” a coordenar os movimentos necessários para fazer cocô — como contrair o abdômen e relaxar o ânus ao mesmo tempo.

Por isso, você pode perceber o bebê fazendo força, chorando ou ficando vermelho, mas no final as fezes saem normalmente, geralmente pastosas ou até mesmo líquidas (o que é supernormal para a idade). Essa dificuldade é passageira e não representa nenhum risco à saúde do bebê.

Mesmo com a condição, os exames físicos e o crescimento do bebê geralmente são normais, descartando problemas mais sérios. É um processo natural que melhora conforme o bebê cresce e seu sistema neuromuscular amadurece.

Quais os principais sintomas?

Durante um episódio de disquesia, o bebê faz força para evacuar, pode ficar vermelho, chorar e gemer, mas geralmente sem demonstrar dor intensa. Esses momentos, que duram de 10 a 20 minutos, costumam se resolver assim que as fezes são eliminadas. Isso pode se repetir algumas vezes ao dia.

O que fazer para aliviar a disquesia?

Mesmo que a disquesia seja uma fase passageira no desenvolvimento do seu bebê, algumas dicas podem ajudar a tornar esse momento mais confortável para ele e para os pais ou cuidadores.

1. Mantenha a calma

Mesmo que pareça que o bebê está se esforçando muito, é importante ter sempre em mente que a disquesia é uma condição benigna e que vai passar. Respire fundo, mantenha a calma e ofereça conforto com voz suave e toques delicados. Sua tranquilidade será um grande apoio para que ele passe por esse momento com mais segurança e acolhimento. 

Se você estiver ansioso, preocupado ou estressado, seu bebê perceberá essa tensão e poderá ficar ainda mais agitado.

2. Faça contato pele a pele

O contato direto pele a pele entre os pais e o bebê tem um efeito calmante, promovendo segurança e bem-estar, o que pode auxiliar durante os episódios de disquesia.

3. Coloque-o em posição de cócoras

Tente dobrar as perninhas do bebê sobre a barriga dele ou colocá-lo em posição de cócoras quando perceber que ele está com vontade de evacuar. Essa posição pode facilitar a eliminação das fezes.

4. Faça massagens e movimentos circulares

Massageie a barriguinha do bebê de forma delicada em sentido horário e, com as perninhas, faça movimentos circulares como se ele estivesse pedalando uma bicicleta. Essa prática pode ajudar a estimular o intestino.

5. Troque a posição do bebê

Mude a posição do bebê de forma suave, alternando entre colocá-lo de barriga para cima, de bruços sobre o seu braço (posição do aviãozinho) ou de lado. Isso ajuda a aliviar a pressão abdominal.

6. Dê um banho morno relaxante

Um banho morno, de preferência de banheira ou ofurô especial para bebês, pode ajudar a relaxar os músculos da região pélvica do bebê, facilitando a coordenação necessária para a evacuação. É comum, inclusive, que alguns bebês evacuem durante o banho.

7. Crie um ambiente tranquilo e acolhedor

Procure criar um ambiente calmo, com pouca luz e ruídos baixos, para ajudar o bebê a se sentir mais relaxado durante os momentos de esforço.

8. Priorize o leite materno ou a fórmula para bebês até os 6 meses

Antes de iniciar a introdução alimentar, o recomendado é oferecer somente o leite materno quando possível ou a fórmula indicada para o seu bebê, evitando alimentos como sucos, chás e outros tipos de leite. Nem mesmo a oferta de água é necessária antes dos 6 meses de vida.

9. Evite medicar ou fazer estímulos anais

Evite o uso de medicamentos, supositórios ou estímulos anais. A disquesia do lactente não envolve fezes endurecidas e a criança precisa aprender a coordenar a evacuação sozinha. Embora esses estímulos possam funcionar temporariamente, eles podem criar o hábito de o bebê só evacuar com intervenção, o que não é recomendado

Quando buscar ajuda médica?

Apesar de a disquesia do bebê ser uma condição normal, há situações em que é importante buscar ajuda médica, como:

• episódios frequentes ou prolongados de esforço: se o bebê passar muito tempo tentando evacuar, com episódios que duram mais de 20 minutos, ou se repetirem mais vezes ao dia do que o normal;
• dor intensa: se, além do esforço, o bebê demonstrar estar com muita dor, chorando intensamente ou visivelmente desconfortável, ao invés de apenas se incomodar com o esforço para evacuar.

• fezes duras ou sinais de constipação grave: se as fezes do bebê estiverem muito secas e duras ou se houver dificuldade extrema para evacuar.

• sintomas de outras condições: se o bebê apresentar sangramentos nas fezes, distensão abdominal ou vômitos, esses podem ser sinais de algo mais sério e merecem avaliação médica.

Sempre que tiver dúvidas ou notar algo incomum, consulte um pediatra para garantir que o bebê esteja bem.

Quanto tempo dura a disquesia do bebê?

A disquesia do bebê tende a desaparecer espontaneamente à medida que ele desenvolve a coordenação entre o aumento da pressão abdominal e o relaxamento do assoalho pélvico. Esse processo de amadurecimento do sistema digestivo pode levar algum tempo e varia conforme cada bebê, mas a condição geralmente se resolve por conta própria.

Até pouco tempo atrás, o diagnóstico da disquesia do lactente era restrito a bebês com menos de seis meses. No entanto, estudos mais recentes mostraram que a disquesia pode continuar até os nove meses. 

Por isso, em caso de sintomas ou diagnóstico de disquesia é importante contar com acompanhamento médico nessa fase para receber as orientações adequadas e ter apoio no planejamento alimentar do bebê que iniciará a introdução de alimentos sólidos.

Tanto a disquesia, quanto outras condições típicas dessa fase podem ser desafiadoras para os pais. As cólicas também podem confundir quem cuida e, mesmo comuns, serem desconfortáveis para o bebê. 

Compreender as causas e sintomas é um passo importante para oferecer o cuidado e o conforto que seu pequeno precisa nesse momento de desenvolvimento. Acompanhe nosso artigo sobre cólica em recém-nascidos para mais informações e para tirar as suas dúvidas.